Amamentar é - aleitamento materno | por Chris Nicklas

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Chris Nicklas /Colunistas

Quem amamenta ama. E quem dá o leite em pó faz o que?!

Você que ama seu bebê e recorreu ao leite em pó já ouviu isso, não? Como Você se sente?

  • 19/02/2015
  • Chris Nicklas

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O Amamentar é… e suas reticências!

Por que coloquei os três pontinhos no final do nome do meu projeto?

Eu poderia ter batizado o site de: Amamentar é maravilhoso, delicioso, mágico, perfeito ou tantos outros adjetivos que descrevem tão bem essa fase de nossas vidas.

Mas não, eu não quis assim. Me sentiria falando uma meia verdade.

Deixei as reticências para que cada uma de vocês completasse a frase a partir de suas experiências pessoais.

Afinal nem sempre, e muito menos o tempo todo, amamentar é fácil e prazeroso.

Pelo contrário, um número imenso de mulheres vivenciam uma boa dose de sofrimento e angústia, que seja no início do processo da amamentação ou no final, quando chega a hora de completar o ciclo do desmame.

Deixar os três pontinhos para que vocês completassem me pareceu mais democrático e muito mais honesto.

A meia verdade aliás está presente o tempo todo na postura que a sociedade brasileira assume em relação às mulheres que tentam amamentar.

A mãe que trabalha que o diga!

Vejo por aí títulos que descrevem o Aleitamento como a mais legítima forma de amor materno na primeira fase do desenvolvimento de uma criança, e penso na quantidade de mulheres que se sentem excluídas deste universo por não terem realizado o tão ambicioso sonho de amamentar exclusivamente no seio por seis meses. Tenho dúvidas quanto a eficácia deste discurso… Penso que o apoio e o incentivo, quando mal elaborados, são extremamente maléficos, pois provocam a culpa e a segregação. Vejo mães se digladiando nos comentários do FB do Amamentar é… por causa disso. Uma tristeza!

Mesmo no Amamentar é… quando compartilho posts, reportagens, campanhas corro o risco de disseminar esta absurda noção de que mãe que ama, amamenta. Peço perdão por isso. Mas este equivocado conceito está presente na grande maioria dos conteúdos que encontro pela web sobre amamentação. Mesmo veículos que compartilham informações valiosas, para quem procura ajuda para sanar as dificuldades que surgem na jornada da amamentação, caem no erro de fazer parecer definitivo, para a afirmação do amor materno, o sucesso da amamentação.

Pois bem, não é!

Amor de mãe vai tão, mas tão além! Tanto que ele surge inclusive entre pessoas que não tem vínculo sanguíneo nenhum.

Ele é tão abrangente, que assume as mais diversas formas e se expressa através de infinitas maneiras.

Sim, é muito aflitivo desejar algo e não conseguir realizá-lo, principalmente quando tantos aspectos da saúde do bebê estão em jogo. Mas amamentar é um ato comunitário, uma realização da sociedade como um todo. É preciso que marido, familiares, amigos, médicos, patrões, empresas, políticos, vizinhos, desconhecidos, enfim, TODOS! Estejam de comum acordo: uma mulher só amamenta se todos nós ajudarmos. Sozinha é muito difícil, e por isso tantas mães, que amam seus filhos, desistem. Creditar somente à elas a responsabilidade do sucesso da amamentação é no mínimo injusto.

Amamentar é somente uma das formas que temos para expressar nosso carinho e amor pelo bebê.

Ao mesmo tempo é preciso que fique claro que a importância do acesso à informação de qualidade se deve ao fato de sermos frequentemente induzidas a oferecer substitutos do leite materno por profissionais da saúde em situações em que não há a menor necessidade. O desmame precoce está engendrado em nossa cultura como algo corriqueiro e surge onde menos esperamos. Afinal quem imagina que um pediatra receitaria um leite adaptado nas primeiras semanas de vida de um bebê que tem uma mãe que está disponível para o Aleitamento Materno e clama por orientação para conseguir seguir amamentando ? Pois isso é o que mais vejo nos depoimentos das mães que vêm conversar comigo através do projeto.

Temos que aprender a filtrar o que lemos. Selecionar o que nos serve e o que nos deixa mais inseguras e fragilizadas.

Sim, quando amamentamos sentimos muito amor, mas ele já estava lá! E ele também estará quando oferecermos o nosso colo, nossa voz, nossa mão, uma colherada de papinha e até o leite adaptado!

Entendam que o que tem que ser questionado não é o amor materno e sua competência! Todos que estão ao redor têm algum grau de responsabilidade, principalmente os profissionais que atendem a mãe que amamenta.

Amamentar é um ato cultural e cultura a gente constrói.